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Contagem decrescente para o Euro-2024 | Itália 1968: Catenaccio e moeda ao ar

Giacinto Facchetti, capitão de Itália, com o troféu atribuído aos campeões
Giacinto Facchetti, capitão de Itália, com o troféu atribuído aos campeõesProfimedia
O 17.º Campeonato Europeu de Futebol arranca na Alemanha a 14 de junho. Todos os dias, até lá, o Flashscore traz-lhe alguns dos destaques da rica história dos Europeus.

Depois de uma vergonhosa eliminação do Campeonato do Mundo de 1966 em Inglaterra, onde perderam o último jogo do grupo por 1-0 para a Coreia do Norte, os jogadores italianos tiveram de suportar um bombardeamento de raiva no regresso a casa.

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A vingança viria dois anos mais tarde, no renomeado Campeonato Europeu de Futebol.

Não só o nome foi alterado, mas também o formato: havia oito grupos preliminares, com os vencedores a qualificarem-se para os quartos de final, disputados em formato de eliminatórias.

Houve dois momentos notáveis nas fases preliminares: o jogo entre a Escócia e a Inglaterra em Hampden Park, o último encontro competitivo entre as duas equipas até ao Euro-96, atraiu o que continua a ser um recorde de assistência num Europeu: 130.711 espetadores.

E o primeiro jogo da fase de grupos da história do Euro, disputado a 7 de setembro de 1966 entre os Países Baixos e a Hungria, assistiu à estreia de Johan Cruyff, que mais tarde se tornaria um dos ícones do futebol.

Inglaterra, Itália, URSS e Jugoslávia foram as quatro equipas que passaram dos quartos de final para a final four realizada em solo italiano.

Catenaccio, catenaccio, catenaccio

Após a desgraça do Campeonato do Mundo, a Federação Italiana de Futebol colocou a seleção nacional nas mãos de uma dupla composta pelo lendário treinador do Inter de Milão, Helenio Herrera, e por Ferruccio Valcareggi, adjunto de Edmondo Fabbri desde 1966, que rapidamente se tornou o único responsável pelo destino da Azzurra.

Valcareggi não era um treinador conhecido por ganhar jogos, mas sim por não perdê-los. No Inter, adotou o estilo fechado preferido de Herrera, o famoso Catenaccio, que entrou para o vocabulário do futebol.

A abordagem de não sofrer golos e ver se dava para marcar um levou a um duelo extremamente renhido na meia-final contra a URSS, em Nápoles. Ao fim de 120 minutos, o resultado era 0-0 e, uma vez que o desempate por grandes penalidades só seria introduzido dois anos mais tarde, a equipa que se qualificaria para a final foi decidida de uma forma que continua a ser única na história do Euro: o lançamento de uma moeda ao ar.

O momento não era no estádio, mas no balneário dos árbitros, pelo que durante alguns minutos os 68.000 espectadores do então Estádio San Paolo (agora Diego Armando Maradona) esperaram com a respiração suspensa, para depois explodirem em aplausos quando o capitão Giacinto Facchetti saiu do túnel em direção aos balneários e levantou o punho no ar.

"Caminhei ao lado do capitão russo. Descemos juntos para os balneários, acompanhados por dois administradores das duas equipas. O árbitro puxou de uma moeda velha e eu disse coroa. Foi a decisão correta e a Itália qualificou-se para a final. Fomos a correr para cima, porque o estádio ainda estava cheio e cerca de 70.000 adeptos esperavam pelo resultado. Viram-me a festejar e perceberam que podiam festejar uma vitória italiana", disse Giacinto Facchetti após a meia-final.

A final compõe-se

Alguns dias mais tarde (8 de junho de 1968), no Estádio Olímpico de Roma, assistiu-se a um jogo igualmente complicado.

Dragan Dzajic abriu o marcador para a Jugoslávia aos 39 minutos (os jugoslavos venceram a Inglaterra por 1-0 nas meias-finais), mas a Itália empatou a 10 minutos do fim, graças a um livre de Angelo Domneghini que furou a barreira adversária.

O empate obrigou a uma repetição da final, a única vez na história do Euro ou do Campeonato do Mundo que tal aconteceu.

Valcareggi mudou metade da equipa em relação ao primeiro jogo. Sandro Mazzola, ausente dois dias antes devido a uma lesão, desempenhou um papel decisivo, enquanto o lendário Gigi Riva, ainda o melhor marcador de sempre da Azzurra, que esteve lesionado durante um longo período, foi titular e marcou o primeiro golo.

A Itália selou a vitória com um golo de génio de Pietro Anastasi, que levantou a bola e rematou-a em vólei à entrada da área de forma imparável.

A Squadra Azzurra conquistou assim o seu primeiro título europeu, um título que, em muitos aspectos, é semelhante ao que ganhou décadas mais tarde no Euro-2020, mas falaremos desse triunfo num episódio futuro.