A 10.ª edição do Campeonato Europeu de Futebol realizou-se em Inglaterra de 8 a 30 de junho de 1996, tendo a Alemanha vencido a grande final no Estádio de Wembley.
Houve alargamento para 16 seleções, mas os estádios não estiveram cheios, mesmo durante os jogos a eliminar. Os alemães tornaram-se assim os mestres da Europa pela terceira vez e a seleção com mais troféus na competição no Velho Continente.
As duas últimas taças foram conquistadas em 1972 e 1980, quando o país se chamava Alemanha Ocidental. Com a reunificação da RDA e da RFA em 3 de outubro de 1990, os alemães conquistaram o terceiro título sob o nome de Alemanha, em Inglaterra, no Templo do Futebol.
Mais perto dos dias de hoje, a Espanha conseguiu recuperar o atraso graças aos torneios conquistados em 2008 e 2012, sendo que o primeiro Campeonato da Europa conquistado pela La Roja conta-se em 1964, apenas a segunda edição realizada em solo ibérico.
Inglaterra foi derrotada em casa pela mesma Alemanha determinada
A seleção dos Três Leões sofreu um verdadeiro choque em casa, na fase das meias-finais, no Estádio de Wembley, quando a equipa de Terry Venables perdeu a competição para a Alemanha nos penáltis.
No final dos 90 minutos, o resultado estava empatado 1-1, com Stefan Kuntz a empatar para a Alemanha aos 16 minutos, depois de Alan Shearer ter inaugurado o marcador para os anfitriões logo no início (3 minutos).
Os alemães acabaram por vencer por 6-5 nos penáltis, com o penálti decisivo da Inglaterra a ser desperdiçado por Gareth Southgate, o atual treinador dos ingleses.
A ambição do técnico Berti Vogts
Berti Vogts parecia destinado a tornar-se o técnico da Alemanha. Com uma carreira notável num só clube, Vogts disputou mais de 500 jogos na defesa do Borussia Mönchengladbach e acumulou 96 internacionalizações pela Alemanha Ocidental, conquistando o Euro 72 e o Campeonato do Mundo de 1974.
Depois de se reformar, assumiu o comando da equipa alemã de sub-21 e tornou-se o segundo treinador da seleção principal. Em 1990, quando Franz Beckenbauer abandonou o comando da equipa, Vogts foi a escolha óbvia para lhe suceder.
A reputação de Vogts é controversa, tendo sido eliminado por duas vezes nos quartos de final do Campeonato do Mundo. Embora não tenha sido um resultado desastroso, marcou uma queda significativa no desempenho da Alemanha, que tinha chegado a três finais consecutivas.
A previsão de Beckenbauer de que a equipa seria "imbatível" após a reunificação do país parecia não se concretizar sob o comando de Vogts. Após este período, os seus resultados foram modestos, a sua atividade no futebol de clubes foi limitada e a sua passagem pela seleção escocesa foi verdadeiramente desastrosa.
No entanto, no Euro 96, Vogts deu provas de uma gestão louvável. No plano externo, geriu habilmente os egos dos jogadores e resistiu à pressão para fazer regressar Lothar Matthäus, que viria a surpreender no Euro 2000, com 39 anos.
Outros jogadores considerados "problemáticos", como Bodo Illgner e Stefan Effenberg, também foram deixados em casa. Em campo, Vogts criou um sistema que se adaptava aos seus jogadores e lidou eficazmente com os problemas de seleção causados por lesões e suspensões. O treinador sublinhou a importância da pressão, um conceito aplicado com sucesso por poucas outras equipas no torneio.
O primeiro "golo de ouro"
Com um percurso surpreendente mas notável na competição, depois de ter conseguido eliminar Portugal nos quartos de final e a França nas meias-finais (desempate por grandes penalidades), os checos estiveram muito perto de provocar um choque semelhante ao dos dinamarqueses em 1992.
Na final em Wembley, depois de uma primeira parte em que as duas equipas jogaram de forma cautelosa, só aos 59 minutos Patrik Berger abriu o marcador para os checos, na sequência de uma grande penalidade cometida por Karel Poborský.
As substituições tiveram um papel fundamental para a equipa alemã. Apesar de Vladimir Smicer, a única substituição dos checos, ter desperdiçado uma boa oportunidade para fazer o 2-0, a decisão do treinador Vogts de introduzir Oliver Bierhoff revelou-se magistral.
Mehmet Scholl foi substituído por Oliver Bierhoff, que se tornou o herói "não celebrado" da final. O avançado não era muito popular no seu país, tendo passado os últimos cinco anos em Itália, três dos quais na Série B, ao serviço da Udinese.
A sua estreia pela seleção germânica aconteceu apenas quatro meses antes do torneio, quando marcou dois golos contra a Dinamarca. Na final em Wembley, Bierhoff precisou de apenas quatro minutos para empatar o jogo, com um golo de cabeça após uma bola parada de Christian Ziege.
O choque viria no prolongamento, pouco depois do início da primeira parte. Aos 95 minutos, numa fase que inicialmente parecia que iria trazer o cobiçado troféu à Alemanha.
Bierhoff recebeu uma bola dentro da área de Klinsmann. De costas para a baliza, conseguiu rodar e rematar em direção à baliza, com a bola a ser ligeiramente desviada por Hornak. Parecia uma bola fácil para o guarda-redes Petr Kouba, mas o guarda-redes não conseguiu evitar e, provavelmente enganado pela trajetória, só conseguiu empurrar a bola, que ficou perto da baliza.
Assim, o primeiro "golo de ouro" de sempre viria a ser um golo extremamente estranho. Enquanto os alemães celebravam, os checos acusaram Kuntz de posição de fora de jogo, dizendo ao árbitro italiano Pierluigi Pairetto que este tinha feito falta sobre Kouba, numa tentativa do guarda-redes de se redimir.
Mas o golo foi validado e a Alemanha tornou-se campeã europeia pela terceira vez na história, e o último troféu europeu que os alemães conquistariam.
Equipa do Euro 1996:
Guarda-redes: Andreas Köpke (Alemanha);
Defesas: Laurent Blanc (França), Marcel Desailly (França), Matthias Sammer (Alemanha) e Paolo Maldini (Itália);
Médios: Paul Gascoigne (Inglaterra), Dieter Eilts (Alemanha) e Karel Poborský (República Checa);
Avançados: Alan Shearer (Inglaterra), Hristo Stoichkov (Bulgária) e Davor Šuker (Croácia);