Matheus tem apenas 27 anos, mas os portugueses já ouvem seu nome há algum tempo.
Apontado desde cedo como uma das principais promessas do Sporting, onde fez praticamente toda a sua base, o jogador foi lançado na equipe principal dos leões por Jorge Jesus e brilhou ao serviço do Chaves, orientado por Luís Castro.
Depois de passagens pela Alemanha e por Inglaterra, onde foi um dos principais jogadores do West Bromwich que subiu do Championship à Premier League, o brasileiro rumou ao Al- Hilal, da Arábia Saudita, e foi aí que passou por um dos períodos mais negativos da vida.
Na entrevista ao The Players' Tribune Brasil, o meia do Cruzeiro revelou que passou por um estado grave de depressão e que só mesmo a esposa evitou o suícidio.
"Nunca tinha dito à minha esposa o que sentia, mas uma das melhores coisas que fiz foi dividir com ela o que pensava. Ela tentou me ajudar, fez todo o possível, foi uma guerreira. Mas eu não conseguia ver uma luz, para mim era tudo ruim", começou por lembrar.
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"Eu só piorava, não tinha vontade de jogar, só queria ficar em casa. Estava a viver por viver. Comecei a pensar: 'quero morrer, não há solução'. Juntei tudo e disse 'não quero saber de ninguém, só quero acabar com isso'. Queria morrer todos os dias e essa vontade só crescia", conta.
Depois de testar positivo para a Covid-19, o brasileiro descobriu que tinha pericardite. Isso fez com que a espiral negativa quase atingisse um poço sem fundo.
"Para melhorar as coisas, fui morar em um hotel. Morava no 19º andar, tinha uma vista espetacular, o hotel era dos melhores. Voltou tudo de novo, mas mais forte. Vivia todos os dias a querer tirar a minha vida.
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"Passava noites em claro bebendo vinho, cerveja, a minha esposa não sabia mais o que fazer. Houve um dia em que parei, estava no 19º andar, abri a janela e disse 'vou saltar daqui'. A minha esposa, desesperada, segurou-me e, nesse dia, não saltei", revelou o jogador, que começou a fazer terapia.
"Estava em casa com o meu amigo Paulo e a minha esposa. Peguei a chave do carro, já um pouco bêbado, desci rápido. Eles vieram atrás de mim, entrei no carro. Quando dei a marcha ré, quase atropelei a minha esposa antes de desaparecer. Havia uma ponte em Abu Dhabi e eu disse 'vou me jogar daqui'.
"Saí à beira da praia, minha irmã, que estava grávida, me ligou. Parei o carro, comecei a desabafar. Lembro que desliguei o telefone e só queria ir embora, mas havia alguma coisa a me segurando, não conseguia ligar o carro. Até que minha esposa aparece, abre a porta do carro e me dá um abraço", recorda.
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A importância de Luís Castro
Na mesma entrevista, Matheus Pereira recordou outros momentos difíceis da sua vida, ainda no Sporting, e destacou o papel que Luís Castro teve na sua afirmação no futebol.
"Comecei a me envolver com muita bebida, mulheres, as companhias não eram as melhores. Uma vez, íamos jogar com o Benfica no sábado. Nas sexta-feiras, eu me reunia com os meus colegas, comecei a enrolar um cigarro de maconha, que foi aceso em seguida. Me lembrei que jogava no dia seguinte.
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"Disse 'não vou fumar. Vou jogar contra o Benfica, é importante'. Fui para o jogo, ganhamos, quando acabou o jogo, o médico chega perto de mim e me diz que eu havia sido escolhido para o exame anti-doping. Se tivesse sido apanhado no doping, talvez não estivesse aqui", revela.
"Às vezes, quando não conseguimos sozinhos, temos de deixar outra pessoa nos guiar. Haverá sempre estrelas a iluminar o céu, mesmo que não as veja por causa dos dias nublados. O futebol, mais uma vez, estendia-me a mão. Agarrei-me a Deus e fui melhorando", disse o jogador recordando as palavras de Luís Castro quando foi emprestado ao Chaves.