Enquanto se prepara para o desafio de um difícil Grupo B ao lado da Croácia, da atual campeã europeia Itália e da surpreendente Albânia na Alemanha, De la Fuente e os seus jogadores tiveram que lidar com o furor em torno da escandalosa RFEF.
O governo criou há duas semanas uma comissão especial para supervisionar o organismo até à realização de novas eleições dentro de alguns meses.
"Temos de preocupar-nos com as questões estritamente desportivas, que já são suficientes", disse De la Fuente à Reuters numa entrevista na segunda-feira. "Temos de concentrar-nos naquilo que podemos controlar. Isto é muito, muito básico, mas é muito real. Concentrem-se no futebol. Preocupa-me como vão ser as instalações, o campo de treinos, os relvados, as viagens (...). E como vai ser dentro de campo, porque os jogadores sabem que vamos ser julgados pelo que fizermos dentro de campo".
O treinador acrescentou que "tudo o resto, todo o ruído mediático à nossa volta, não nos vai ajudar. Por isso, temos de estar total e absolutamente concentrados naquilo que é, para nós, o mais importante: a competição".
Independentemente da agitação em torno da sua equipa, que sabe que será intensa, De la Fuente disse que será ainda mais útil manter uma filosofia em que sempre insistiu: o caráter e os valores de um jogador são tão importantes como a forma e o talento.
"O que me surpreende é que algo que deveríamos ter como garantido parece excecional. Prefiro trabalhar com boas pessoas. Claro, grandes profissionais, mas também boas pessoas", acrescentou De la Fuente.
"Um bom profissional, mas com qualidades humanas duvidosas? Isso não me dá segurança! Quero pessoas à minha volta, pessoas boas que estejam dispostas a trabalhar, dispostas a sacrificar-se pela pessoa que está ao seu lado, que sejam solidárias, que sejam generosas", explicou como filosofia desportiva e de vida.
"Quando se tem de gerir um grupo de pessoas, é muito mais fácil trabalhar com esse tipo de pessoas do que com outras que nos podem causar problemas. Numa competição tão curta, um passo atrás pode ser quase definitivo. Não nos podemos dar a esse luxo", sustentou.
Caras conhecidas
Para aplicar a sua filosofia, De la Fuente, 62 anos, tem a vantagem de conhecer muito bem muitos dos jogadores.
Chegou à RFEF em 2013 como treinador dos sub-15, tendo trabalhado com jogadores como Pedri, Mikel Oyarzabal, Fabián Ruiz, Mikel Merino, Marco Asensio e Dani Olmo nas camadas jovens.
De la Fuente foi campeão europeu com os sub-19 em 2015 e com os sub-21 em 2019, treinando muitos dos jogadores que guiou ao título da Liga das Nações no ano passado e que farão parte da convocatória para o Euro 2024 que anunciará na próxima segunda-feira.
Com os adolescentes do Barcelona Lamine Yamal e Pau Cubarsi a despontarem e veteranos como Dani Carvajal, do Real Madrid, e Álvaro Morata, do Atlético de Madrid, ainda em atividade, De la Fuente acredita que tem à sua disposição um grupo talentoso com a mistura perfeita de juventude e experiência.
"Conheço muito bem o futebol de base espanhol e penso que produzimos os melhores jogadores do mundo. Mas para sermos campeões temos de jogar como uma equipa. Uma equipa coesa, unida, um grupo homogéneo que tem uma meta comum e um objetivo claro. E penso que consolidámos um grande grupo humano", sublinha.
"Agora vamos deixar que o futebol fale mais alto e que os jogadores talentosos, com os quais acredito que podemos contar, sejam os verdadeiros protagonistas desta história, as estrelas em campo", rematou.
O regresso de Isco Alarcón
No final da tarde, no programa "Estudio Estadio" do canal Teledeporte, o próprio De la Fuente falou sobre Isco. "Todos o conhecemos e sabemos o seu talento, declaro-me publicamente um admirador de Isco. Não esteve connosco devido a vários contratempos", admitiu, deixando a porta aberta para a sua chamada para o Campeonato da Europa.